Certa vez tive uma ideia de produzir episódios de um programa de rádio para a faculdade, cujo tema era ‘A Esperança’. Era muito abstrato, segundo meu saudoso professor, e era preciso trazer esse tema para a realidade. O propósito era fazer com que as pessoas ao ouvir fossem impulsionadas a viver com mais esperança. Mas tanta coisa aconteceu, meu grupo se desfez antes mesmo do projeto concluído, eram desentendimentos insuperáveis. O projeto foi entregue, mas a minha esperança mesmo estava ruída no final de tudo. A minha alegria não existia mais. Por fora aparentava calma, mas por dentro, eu era um turbilhão de emoções.
No período em que eu produzi material para estes episódios, conheci a Dra. Ana Claudia Quintana Arantes, que trabalha no hospital Albert Einstein e faz parte da Casa do Cuidar, que presta curso de especialização para profissionais que desejam se dedicar a cuidados paliativos – voltados para pessoas que estão em fase terminal de vida. Eu não consegui entrevistá-la, comecei a chorar compulsivamente e ela muito gentil me estendeu lenços de papel, enquanto por dentro eu me achava uma completa doida. Porque falar sobre a morte deixa qualquer pessoa impotente.
Resumindo, eu queria trabalhar com a esperança, como se ela fosse um material, um ingrediente, completamente tangível e manipulável. Eu queria transformar a esperança em um assunto base para episódios de programa de rádio e dentro de mim, que era onde ela deveria fluir como um rio, não havia nada, a não ser uma ânsia quase insuportável de que aquele trabalho terminasse o mais rápido possível.
Há algumas coisas nessa vida que não podem ser calculadas ou tratadas como objeto, mesmo que abstrato, uma delas, é a esperança. É essa ‘obra’ da fé. A esperança é um exercício que se faz de olhos fechados, é um salto no completo breu, é uma imensidão que flui em almas quase destruídas pela dor.
A gente só sente que a esperança brada na alma, quando acabam as forças ou quando se depara com situações que levam a refletir sobre o real sentido em existir. E não, existir não é algo banal, qualquer, assim como as nossas capacidades mentais e sentidos não existem apenas por existir. É preciso ser.
Por que alguém esperaria sem sinais? Por que alguém creria sem chances concretas? Por que optar pelo abstrato quando é muito mais simples viver vendo o que tem forma diante dos olhos?
A esperança abranda a sede da alma. É como um bálsamo para a dor. É como uma força que emana ainda que o corpo físico não possa sequer se mover. A esperança nos faz ver além, nos faz enxergar o bem mesmo quando ao olhar em volta se vê com tristeza o quanto o mal impera.
Esperançar é um exercício que acalma, que reaviva, que renova e que é capaz de tornar a vida muito mais colorida, mesmo que ao abrir os olhos só se vejam os tons acinzentados.
Às vezes é preciso ter esperança contra a própria esperança, porque o que é mau também tem esperança, e espera que deixem de esperar... pela bondade. Que mesmo diante dos pesadelos reais, dos medos, dos monstros, que mesmo diante de toda a crueldade, não se perca a esperança, na vida que pode ser jorrada e frutífera e nos sonhos, que não são tão loucos assim. Que loucura é maior do que essa de existir?
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