domingo, 8 de dezembro de 2013

AU, AU, AU, AU, AU, AU, AU...






Eu sofro de um ‘distúrbio’ comum entre a maioria das pessoas de nome: descuido (risos). Sei que preciso de óculos, mas me recuso a uma consulta com o oftalmologista, então passo a ter 'alucinações' com a palavra escrita. Na verdade, acho que as palavras assim como as pessoas sofrem de tédio e em alguns momentos se sentem deprimidas em meio a tantas e tantas palavras. Então, de vez em quando, elas se utilizam dos problemas de visão dos seres humanos para se descaracterizarem a fim de serem percebidas e atraírem a atenção por mais de 5 segundos. Com minha dificuldade em ser sucinta como podem perceber, foi assim, em uma noite de sábado em que ao "zapear" parei no canal Multishow e me deparei com a faixa de informação do canal com a descrição “Desvenda” Banhart. ‘Desvenda’... O que pode ser ‘Desvenda’ Banhart? Sim, o nome do Devendra estava entediado e queria ser percebido pelo maior número de pessoas e se utilizou do meu problema de visão para tal.

Ainda assim, quando o vi cantando, pensei que se tratasse do nome de uma banda, mas pesquisando descobri que não, tratava-se de um nome, nome de um homem norte-americano, criado na Venezuela com forte influência latina... O que me chamou a atenção? Passionalidade. Ele cantava com paixão e a música era definitivamente estonteante, música capaz de narrar as mais impensadas maluquices, que no dia seguinte, ficará a critério contar ou não a si mesmo.

Acho que para descrever melhor o meu momento de ‘Desvendar’ Devendra Banhart, posso ouvir agora 'Foolin' seguido de ‘Baby’. Voltando ao Devendra, sim, me chamou a atenção aquele homem misterioso com uma voz única, charme na medida certa, sexualidade e...incógnita. A minha leitura do nome Devendra não era assim tão absurda, realmente instiga a ‘Desvendar’ então o que é Banhart.

Os olhos negros, a boca sedutora, os dentes levemente desalinhados, os cabelos negros, a barba, os longos cílios negros, a voz deliciosa e o charme imensurável. Sim, estou cantando por meio das minhas amigas palavras escritas o cantor Devendra Banhart, que provavelmente nunca verá e mesmo que visse não daria o mínimo de atenção à essa narrativa extraterrestre sobre ele. Mas minha pretensão é corajosa e interminável!

Luz do palco predominantemente avermelhada, ora falava em inglês, ora em espanhol, e a minha sede quase insuportável: Devendra Banhart!

Não é o ‘tipo’ de cantor que atrai comumente os ouvidos, mas tem uma das vozes mais apaixonadas e vocacionadas que já ouvi. A voz mais despretensiosa, humilde, doce, levemente grave...sexy. E assim, a mulher maluca passa a ouvir a voz cheia de qualidades com frequência. Podem me chamar de maluca, o que realmente sou, tenho facilidade incrível em fantasiar com muito pouco, em me apaixonar por muito pouco. Certa vez, conheci um ator, por meio de sua atuação, me apaixonei pela personagem e pelo ator (risos). Sim, é verdade, ontem, fui em uma peça, um monólogo, para vê-lo mais de perto, e sim, para fantasiar. Apaixonante, belo, vontade alucinada de percorrer o palco recitando João Cabral de Melo Neto (Os Três Mal - Amados). Sim, é ridículo para uma mulher admitir sua insanidade assim...

Voltando ao Devendra... Ah! Ao som de 'Baby'! Esse homem seria “desvendável”? Passional, que foge às convenções, que foge até mesmo da compreensão musical, racional, romântica. Eu tive certeza do poder e sedução que exalam deste homem quando ouvi a música “Bad Girl”, era uma única chance para afirmar: Só um cara misterioso, de aparência sexy e voz deliciosa... Até que entrou o refrão: "Wah, wah, wah, wah, wah, wah, wah..." Que ouvi como (au, au, au, au, au, au, au...) (risos). Então tive certeza, um homem que com seu diafragma apaixonadamente “late”, um homem capaz de ser irresistível sem dizer... Um homem que com uma música me desvendou. Devendra Banhart. Desvendável? Não sei. Devendra, que li desvenda, que é a essência de Devendra. Devendra que me desvendou, “Bad girl”? Não sei... Me 'devendrou' apenas “chico”!


                                                                                              

domingo, 3 de novembro de 2013

O MEU MUNDO EM PRETO E BRANCO



             


Para falar de cores primeiramente lhes apresento o meu mundo em preto e branco, e diferente do que muitos podem pensar, não se trata de um mundo apenas “mórbido” ou “triste”, mas do meu mundo, minha condição... em preto e branco.

Um mundo saudosista, muito mais triste do que alegre, mas imensamente intenso e sedento, diversas vezes redundante e incoerente, mas escandalosamente vivaz. Sim, em preto e branco e... vivaz!

No meu mundo em preto e branco eu posso mergulhar inúmeras vezes em labirintos linguísticos sem me preocupar com o caminho de volta, aliás, a intenção é não encontrar caminho algum. Tenho o conforto de ser o mistério que sou sem que me questionem quais mistérios são estes. Aliás, nem eu mesma sei.

Não há nada mais brilhante que eu possa considerar no planeta Terra do que a existência das cores, mesmo em meu mundo “sóbrio”, não posso deixar de me sentir seduzida pelo brilho cromático capaz de colorir os fachos negros mais sublimes, e diferente do que muitos podem pensar, embora o oposto de um mundo em preto e branco, as cores diversas vezes surgem para me surpreender.

Será que um mundo “sóbrio” pode ser habitado por alguma cor?

Segundo a teoria de cor-luz, o preto representa a ausência de todas as cores e o branco, a soma de todas as cores, essa teoria diz que as cores só podem ser enxergadas com a presença da luz. Diante dessa constatação teórica eu tenho todas as cores e nenhuma cor em meu mundo em preto e branco, e isso humoristicamente me faz constatar as delimitadas nuances do meu modo de existir.

A palavra talvez não existe no meu mundo, o mais ou menos não existe no meu mundo, as poucas lágrimas não escorrem no meu rosto em dias de tristeza, não há o riso contido em deleites de humor, não há pouco no meu tudo de existir, mas se houver pouco, é a mais escassa miséria, insuportável, cerrada sequidão.

Se existo quero exalar e que seja o mais fétido odor se em minha alma houver escuridão, 

Se sorrir, que seja o mais verdadeiro e delicioso riso, 

Se sentir dor, que seja a sensação mais dolorosa já experimentada,

Se for para me apaixonar, que seja a loucura mais insana já vivenciada, 

Se for para viver, que haja vida!

Não saberia jamais viver sem toda a intensidade que há, não conseguiria suportar apenas uma dose do cálice dos “deliciosos” e “angustiantes” drinques que a vida pode oferecer.

Em meu mundo em preto e branco, há toda cor e nenhuma cor, ora a mais insana e espetacular apresentação cromática, ora a mais sublime escuridão, talvez o motivo de não me compreenderem esteja na presença do preto impedindo que enxerguem as cores existentes no branco.

Embora componham meu mundo, são duas cores impenetráveis e incapazes de se encaixar. Se completam, mas não podem dialogar, são as cores do meu mundo, o meu doce e amargo, bem quisto e odiado, opostos eternos.

O meu mundo em preto e branco sem cor alguma e com todas as cores que nem todos os mundos são capazes de suportar. O mais colorido e a mais densa escuridão. 

Me tenha, mas saiba que há um mundo como esse habitando em mim. 













sexta-feira, 18 de outubro de 2013

AS PESSOAS QUE VIVEM NOS QUADROS



           
          


Pessoas são complexas, há uma infinidade de comportamentos, trejeitos, maneira de falar, comer, andar, pensar, sentir etc., e a todo momento são desafiadas a conviver com o que as diferem entre si. Mas há um grupo social que habita em outra atmosfera: pessoas mudas, presas nos quadros, constantemente observadas, constantemente examinadas e suplicantes. Que sociedade é essa paralisada nas obras de arte e condenada a julgamentos?
  Que liberdade de expressão é essa que prende pessoas em quadros e faz com que sejam enquanto existirem, observadas, comparadas e despercebidas?
  Quando me deparo com um rosto em quadro ou quando vejo uma infinidade de rostos nos quadros, me sinto asfixiada, são pessoas presas, que olham, choram, sonham... para sempre. Penso: Quem são essas pessoas que existem nas obras, que ficam nas paredes, enquanto seus idealizadores vivem, se movimentam, saem, se apaixonam, enlouquecem, dançam e somem? Algumas são belas para sempre, outras mortas para sempre, outras invisíveis para sempre, outras para sempre entre a multidão.
  Então em minha momentânea insanidade reflito: essas pessoas paralisadas são como todas as pessoas que se movimentam, essas pessoas que me afligem estão presas não em quadros, mas em espelhos, nos quais posso me ver. Muitas vezes no mundo, me sinto tão presa quanto alguém preso no quadro, ou tão invisível quanto alguém em uma multidão, tão sonhadora, tão morta, tão esquecida.
  O mais encantador está naquilo que não vemos. Muitas vezes nos observam, nos julgam ou não nos enxergam, muitas vezes o corpo está presente, mas os sonhos com seus ideais não param e fazem como os idealizadores dos quadros que em alguns momentos até mesmo somem.
  Mas há algumas pessoas que mesmo paralisadas em quadros se destacam: uma mulher que não se sabe ao certo se possui beleza (Monalisa); um homem que se autoidealizou e se prendeu em um quadro (Van Gogh); ou a parisiense elegante (Auguste Renoir), entre outras visíveis pessoas da sociedade dos quadros.
    E entre nós, que nos movimentamos, há aqueles que não passarão despercebidos, mesmo que assim desejem, alguns são belos (mesmo que não para sempre), outros mortos em si mesmos, muitos sonham e todos estão presos. Sim, estamos presos em obra viva e expostos no mundo, constantemente perguntam: Que sociedade é essa paralisada e condenada a julgamentos?