quinta-feira, 30 de agosto de 2012

ENCONTRO INESQUECÍVEL


Depois de voar horas e horas pelo Universo, Vespúcio teve uma ideia:
 E se eu finalmente caminhasse sobre o planeta Terra e desse só uma espiadinha?  levantou dos anéis de Saturno, onde estava sentado para descansar, e voando em questão de segundos chegou à superfície do planeta Terra, o planeta que particularmente para ele, era o mais enigmático e interessante. Vespúcio caminhava com curiosidade e finalmente se inclinou, sem que ele percebesse um meteoro lhe atingiu e mesmo sabendo voar, se desequilibrou e caiu. Ele não fez força para voar, a sensação de embriaguez por estar em um planeta tão diferente do seu, o dominou. Os diversos odores lhe penetravam nas entranhas e pouco antes que caísse em terra firme, vomitou líquido lilás fluorescente.
 Sentado em sua cadeira de cortiça com seu violão, o homem coberto de vômito era o engraçado Ramalhão:
  Eita meu sinhô, que pássaro doido foi esse que cagou?
Apenas de cueca e botas de cangaço, Ramalhão se dirigiu à beira do rio:
 Eita meu sinhô, que ômi misterioso é esse aqui nesse sertão?  Ramalhão com seus olhos naturalmente esbugalhados via o homem com seus olhos triangulares e disse:
 Ômi do céu, carnaval já passou cabra, e tu vomita bem em cima do meu violão? Eita cachaça nociva da moléstia!  Vespúcio se levantou intimidado, mas não sentia nada de ruim pelo terráqueo engraçado que lhe falava:
 Me desculpe senhor terráqueo, é que eu estava apenas observando o seu planeta, quando um meteoro me surpreendeu e eu caí, o cheiro do seu planeta embrulhou o meu estômago e eu vomitei  Ramalhão surpreendeu o extraterrestre com a naturalidade com a qual lhe respondeu:
 Não se aporrinhe ômi, essas coisa aconteci, mas intaum cê é um ET?  Ramalhão o fitava com doçura enquanto Vespúcio o respondia:
 Eu sou da zona sul do planeta Plutão, eu achava que todos os terráqueos fossem iguais  disse encantado.
 Ixi ômi, cê tá doido? Sou igual esse povo doido não  dizia Ramalhão com seu sotaque carregado, seus olhos arregalados e seu jeito engraçado  Qué qui tu pensa do povo daqui?
 Ah terráqueo, as pouquíssimas vezes em que me inclinei para observar o seu planeta, vi coisas assustadoras, homens se matando, muito líquido vermelho escorrendo, homens pegando objetos que não são deles, e muitas vezes pegando objetos com violência de outros homens, vi também muitos objetos de nome arma, e em muitos lugares pessoas choram, gritam ou não acordam nunca mais.
 Ixi ômi, tu viu foi a realidade desse lugar, aconteci muita coisa assim aqui, mas aqui nesse sertão com esse violão véio que só, eu vivo sozinho e tento num pensá no que aconteci por aí — dizia Ramalhão compassivamente ao extraterrestre cada vez mais impressionado  E qual seu nome caro ômi de Plutão?
 Me chamo Vespúcio e você?
 Eu sou Ramalhão, meu nome é João Ramalho, mas mi chamam pelo apelido, tu chame tamém visse?
 Nossa Ramalhão, você é tão diferente do que eu imaginava  dizia Vespúcio com seriedade e admiração.
 Eita ômi, vivo aqui só, tenho minha viola, como das coisa que a minha terrinha dá, trabaio com artesanato, vou pra cidadi uma veis na semana, fico o dia todinho tentano vendê, mas minha vida é isso aqui, simples que só, sou feliz assim.
 Puxa vida Ramalhão! Que grande ironia, no meu planeta eu também convivo com a solidão, gosto de ficar na minha cratera na zona sul da terra azul e sem leis, trabalho como assistente antissocial, ajudo os seres do meu planeta, mas não me sinto bem convivendo em grupo, prefiro andar pelo Universo e admirar os planetas, gosto de ficar sozinho.
 Eita ômi que beleza e cêis lá vive como? Come o quê?
 Ramalhão lá não precisamos de alimento como aqui e também não há a necessidade de dinheiro.
 Oxi, ah que beleza! Assim que eu queria vivê ômi  dizia Ramalhão com semblante sonhador.
 Não achava que poderia ser tão semelhante a um terráqueo!
Ramalhão e Vespúcio conversavam sobre muitas coisas e as curiosidades não cessavam. Os dias passavam e Vespúcio abrigado no pobre barraco de Ramalhão, parecia tristonho:
 Ramalhão, eu preciso voltar para Plutão, foi muito enriquecedor encontrá-lo e conviver aqui neste sertão, mas sinto falta do meu planeta, das estrelas, da lua, de sentar nos anéis de Saturno, de observar os planetas da superfície.
 Oxi ômi, fique mais um pouco, num é sempre que um cabra legal assim aparece nesse sertão de meu Deus  dizia com sua voz inconfundível e fala devagar.
 Você tem razão Ramalhão, estou realizando um sonho, que era ficar um tempo em outro planeta e conhecer um terráqueo, ficarei mais uns dias por aqui  dizia Vespúcio enchendo de alegria o coração de Ramalhão.
 Ixi, meu coração não guenta não ômi, bora conversar mais, bora.
Muitos dias se passaram, Vespúcio se dividia entre a amizade do terráqueo e a saudade do seu planeta, até que um dia o inevitável aconteceu:
 Ramalhão, eu não queria, mas ao mesmo tempo você sabe... sinto saudade do meu planeta, do Universo, da minha vida por lá  os olhos triangulares marejados deixavam escorrer lágrimas fluorescentes.
 Sei disso ômi, num é fácil mesmo não, mas saiba ocê, que mesmo longe em outro planeta, a amizade continua visse?  Ramalhão dizia com olhos também lacrimejantes, porém com seu jeito excêntrico e humor inconfundível.
Anoiteceu, e após um longo abraço, Vespúcio voou numa velocidade imperceptível aos olhos do maluco Ramalhão.
E até hoje quando está sentado em sua velha cadeira com sua antiga viola, Ramalhão lembra com carinho do seu amigo extraterrestre. E Vespúcio quando caminha sobre o planeta Terra, lembra com carinho do amigo Ramalhão, e é como se ouvisse:
 Ômi do céu!