sexta-feira, 18 de outubro de 2013

AS PESSOAS QUE VIVEM NOS QUADROS



           
          


Pessoas são complexas, há uma infinidade de comportamentos, trejeitos, maneira de falar, comer, andar, pensar, sentir etc., e a todo momento são desafiadas a conviver com o que as diferem entre si. Mas há um grupo social que habita em outra atmosfera: pessoas mudas, presas nos quadros, constantemente observadas, constantemente examinadas e suplicantes. Que sociedade é essa paralisada nas obras de arte e condenada a julgamentos?
  Que liberdade de expressão é essa que prende pessoas em quadros e faz com que sejam enquanto existirem, observadas, comparadas e despercebidas?
  Quando me deparo com um rosto em quadro ou quando vejo uma infinidade de rostos nos quadros, me sinto asfixiada, são pessoas presas, que olham, choram, sonham... para sempre. Penso: Quem são essas pessoas que existem nas obras, que ficam nas paredes, enquanto seus idealizadores vivem, se movimentam, saem, se apaixonam, enlouquecem, dançam e somem? Algumas são belas para sempre, outras mortas para sempre, outras invisíveis para sempre, outras para sempre entre a multidão.
  Então em minha momentânea insanidade reflito: essas pessoas paralisadas são como todas as pessoas que se movimentam, essas pessoas que me afligem estão presas não em quadros, mas em espelhos, nos quais posso me ver. Muitas vezes no mundo, me sinto tão presa quanto alguém preso no quadro, ou tão invisível quanto alguém em uma multidão, tão sonhadora, tão morta, tão esquecida.
  O mais encantador está naquilo que não vemos. Muitas vezes nos observam, nos julgam ou não nos enxergam, muitas vezes o corpo está presente, mas os sonhos com seus ideais não param e fazem como os idealizadores dos quadros que em alguns momentos até mesmo somem.
  Mas há algumas pessoas que mesmo paralisadas em quadros se destacam: uma mulher que não se sabe ao certo se possui beleza (Monalisa); um homem que se autoidealizou e se prendeu em um quadro (Van Gogh); ou a parisiense elegante (Auguste Renoir), entre outras visíveis pessoas da sociedade dos quadros.
    E entre nós, que nos movimentamos, há aqueles que não passarão despercebidos, mesmo que assim desejem, alguns são belos (mesmo que não para sempre), outros mortos em si mesmos, muitos sonham e todos estão presos. Sim, estamos presos em obra viva e expostos no mundo, constantemente perguntam: Que sociedade é essa paralisada e condenada a julgamentos?