Pessoas
são complexas, há uma infinidade de comportamentos, trejeitos, maneira de
falar, comer, andar, pensar, sentir etc., e a todo momento são desafiadas a
conviver com o que as diferem entre si. Mas há um grupo social que habita em
outra atmosfera: pessoas mudas, presas nos quadros, constantemente observadas,
constantemente examinadas e suplicantes. Que sociedade é essa paralisada nas
obras de arte e condenada a julgamentos?
Que liberdade de expressão é essa que prende pessoas em quadros e faz com que
sejam enquanto existirem, observadas, comparadas e despercebidas?
Quando me deparo com um rosto em quadro ou quando vejo uma infinidade de rostos
nos quadros, me sinto asfixiada, são pessoas presas, que olham, choram,
sonham... para sempre. Penso: Quem são essas pessoas que existem nas obras, que
ficam nas paredes, enquanto seus idealizadores vivem, se movimentam, saem, se
apaixonam, enlouquecem, dançam e somem? Algumas são belas para sempre, outras
mortas para sempre, outras invisíveis para sempre, outras para sempre entre a
multidão.
Então em minha momentânea insanidade reflito: essas pessoas paralisadas são
como todas as pessoas que se movimentam, essas pessoas que me afligem estão
presas não em quadros, mas em espelhos, nos quais posso me ver. Muitas vezes no
mundo, me sinto tão presa quanto alguém preso no quadro, ou tão invisível
quanto alguém em uma multidão, tão sonhadora, tão morta, tão esquecida.
O
mais encantador está naquilo que não vemos. Muitas vezes nos observam, nos
julgam ou não nos enxergam, muitas vezes o corpo está presente, mas os sonhos
com seus ideais não param e fazem como os idealizadores dos quadros que em
alguns momentos até mesmo somem.
Mas há algumas pessoas que mesmo paralisadas em quadros se destacam: uma mulher
que não se sabe ao certo se possui beleza (Monalisa); um homem que se
autoidealizou e se prendeu em um quadro (Van Gogh); ou a parisiense elegante
(Auguste Renoir), entre outras visíveis pessoas da sociedade dos quadros.
E entre nós, que nos movimentamos, há aqueles que não passarão despercebidos,
mesmo que assim desejem, alguns são belos (mesmo que não para sempre), outros
mortos em si mesmos, muitos sonham e todos estão presos. Sim, estamos presos em
obra viva e expostos no mundo, constantemente perguntam: Que sociedade é essa
paralisada e condenada a julgamentos?