Nos últimos anos tenho feito
grande esforço para me sentir motivada e o que me motiva são os pequenos e quase
imperceptíveis detalhes. Do que me dizem, das milhões de palavras, escolho
apenas algumas, ou... não escuto nenhuma.
A literatura me faz bem, me
sequestra em alguns momentos, me anestesia, me encanta... Os desenhos animados
em sua maioria me levam a algum lugar distante por alguns instantes. Os animais
me alegram, me despertam a protegê-los, a sentir a minha humanidade.
Certa vez ouvi: Existem
várias formas de morrer, mas a mais letal é a vida... Não me lembro perfeitamente das palavras
utilizadas na pronúncia, por isso a probabilidade de estar sendo infiel na
transcrição é gigantesca. Mas sim, viver é exaustivo, e não é na maioria dos
dias doce ou alegre, graciosamente é intercalada por momentos longos de
tristeza... sim, graciosamente, a tristeza é o que torna a vida agradável, o
que leva a pensar, o que leva às considerações que jamais poderiam ser
realizadas se o coração estivesse alegre.
A cada dia procuro me
abstrair do mundo maluco no qual vivo, me deixando envolver pelos pequenos,
minúsculos detalhes que me rodeiam. Certo dia, no caminho do trabalho, ao
entrar no trem (estressada), um homem atrás de mim com seu filho e num tom de
voz instintivo disse: Vamos minha filha! Ah, em minha mente tantos pensamentos
e palavras torpes foram proferidas... (risos)
Mas enquanto o trem se
locomovia e quando o barulho das vozes se dissipava pelo estresse de todos e pelo
cansaço também, pude ouvir um diálogo entre aquele homem e seu filho de
aproximadamente sete anos de idade. O garoto estava indo para a casa do pai, talvez
os pais fossem separados... Aquele homem aconselhava seu filho, pedia para que
o menino se esforçasse e dizia que se ele fosse morar com ele não teria uma
vida de videogames e diversão, teria que estudar, se esforçar... O garoto ouvia
quieto com aparência doce para o pai. O homem tinha aparência simples, o que me
chamou a atenção foi a doçura, os olhos lacrimejantes e vivos enquanto falava
com o filho. Ele dizia ao filho para que estudasse, porque ele teve a
oportunidade, mas pelas condições difíceis de vida não pôde prosseguir. O que
mais me tocou foi a lembrança dele do ano e série em que parou de frequentar a escola, os
quais mencionou algumas vezes... não me recordo dos números, mas percebi que
aquele homem tinha se abdicado de algo que gostava e desejava muito que era
estudar, e não queria, de forma alguma, que ocorresse o mesmo ao seu filho, eu
senti olhando aqueles olhos lacrimejantes, que ele jamais permitiria que o
filho abandonasse os estudos. Aquele era o detalhe que o motivava, que o
entristecia e que mantinha sua ferida aberta. Aquele homem não tinha uma
cicatriz, era uma ferida exposta. Me senti péssima no decorrer da narrativa
daquele homem, por tê-lo amaldiçoado em pensamento enquanto pensava apenas no
meu detalhe (estresse) diário em um transporte público.
Detalhes, os pequenos, os
mais escondidos, capazes de abrir feridas ao mesmo tempo em que dão sentido à
vida. É o que me desperta, me liberta, me torna mais próxima do que sou, mais
próxima da humanidade. São os minuciosos detalhes que tornam a existência
grandiosa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário